Na série Ajuntados da Junta apresentamos os nossos colaboradores.

Frequentadores da Junta Local com certeza conhecem a cervejaria Hocus Pocus. E quem conhece a Hocus Pocus, certamente já reparou no design psicodélico de seus rótulos. Entre uma Magic Trap e outra, soubemos que o autor é o Daniel Gnattali, talentoso ilustrador de traço inconfundível que já fez várias artes para a Junta Local. Sua barba e bigode ruivos podem ser vistos traçando (com trocadilho, por favor) cachorros-quentes e cervejas nas nossas feiras.

A seguir, apresentamos uma prévia do making of do cartaz da temporada de verão e uma breve entrevista realizada com o ilustrador.

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Conte um pouco mais sobre seu trabalho como ilustrador, sua formação, suas inspirações, etc.
Eu me formei em Desenho Industrial em 2008 e trabalho com ilustração desde 2009. Na época eu nem sabia o que era ilustrar e fui fazer um curso com o Renato Alarcão. Lá descobri que ilustrar não é sinônimo de desenhar, e entender esse conceito foi muito interessante (o curso é Ilustração: Conceito e Prática, indico muito).

A partir daí fui operando sempre no modo “ei, isso é muito maneiro, quero fazer também”. Assim foi com as ilustrações do Alarcão e do Shaun Tan, depois quadrinhos autobiográficos do Arnaldo Branco, Liniers e Beleléu, e cartuns poéticos do Orlando Pedroso. Mas por mais que eu quisesse me expressar da mesma maneira que essas referências, cada um tem o seu caminho e fui construindo o meu com base nesses alicerces. Assim como o desenho é uma das ferramentas que o ilustrador pode usar pra ilustrar algo, para mim é igualmente um canal de expressão, bem como a música, a escrita ou a poesia. Mas sendo o desenho também meu trabalho, além de um canal de expressão artística, é natural que haja uma entrega maior e consequentemente um aprofundamento também.

Então, a partir de um certo ponto, a conexão entre a ideia e a execução começa a ficar mais direta. Entre inúmeros benefícios que isso traz, um bem legal é que você começa a dar forma de desenho a outras influências imagéticas que não necessariamente são gravuras ou imagens. Não à toa, hoje, metade do meu trabalho está totalmente ligada ao texto poético e muito da identidade do meu traço bebeu em fontes musicais, principalmente no Jorge Ben Jor.

Como você conheceu a Junta? Fale um pouco sobre seu trabalho com a Hocus Pocus…
Conheci a Junta justamente por causa da Hocus Pocus, que é uma das cervejarias que tem como norte a cultura do caseiro/artesanal. Sendo a Junta um pólo de concentração e disseminação de todo esse pensamento de reaproximação na relação cliente-produto-produtor, nada mais natural que haver esse encontro.

A minha relação com a Hocus Pocus começou em 2014 e de lá pra cá evoluímos muito, de diversas maneiras. Nossa aproximação foi por conta de amigos em comum e alguns trabalhos que eu já vinha desenvolvendo nesse traço e nos demos muito bem logo no primeiro briefing pra fazer o rótulo da Magic Trap. Aconteceu de a ideia da cervejaria e meu estilo de traço se encaixarem perfeitamente. É claro que há aspectos técnicos que podem ajudar a justificar isso e um deles é o fato de, por ter estudado design gráfico, eu já projetar as ilustrações junto com o design – embora isso seja feito intuitivamente. Mas os nossos brainstorms de rótulos geralmente são muito produtivos, pois as ideias estão sempre se agregando, uma potencializando a outra. É aquele tipo de química que não se tem em qualquer relação, rs.

Uma coisa que foi muito benéfica pra mim é que eu não tinha muito tino pra negócios, mas eles tinham. Então, acabei vendo de perto um lado mais empresarial com o qual descobri ter bastante identificação também. Isso certamente se deu pelo fato de ser uma pequena empresa. Se fosse um trabalho nos moldes antigos eu seria apenas um contratado para executar uma função e talvez não houvesse espaço, tempo ou até desejo de um envolvimento maior entre as partes. Hoje nossa relação está muito mais próxima de uma sociedade do que de um job terceirizado, e fico feliz de colher esse tipo de fruto. Quando gosto muito da proposta eu quero mais é vê-la acontecer e quase todo o resto fica secundário, pois acredito que essa entrega retorna pra você. Nem sempre é como imaginamos: às vezes é muito melhor.

O legal do seus desenhos é que eles de certo modo captam os personagens, o trabalho conjunto de todo mundo de forma bem humorada e não focam/fetichizam a comida. Isso é proposital?
Pode ser que seja proposital, mas sei que não é racional. A palavra “captam” é muito adequada, pois muito da essência do meu trabalho como ilustrador é captar uma mensagem do cliente e transcrevê-la em forma de imagem. Como artista, essa mensagem é do meu interior, uma sensação ou pensamento. Mas obviamente isso se torna intuitivo e essa captura acontece naturalmente quando me passam um briefing.

Se eu convivo com o tema ou com as pessoas, com toda certeza essa relação e ideias serão melhor representadas. No caso da Junta foi exatamente assim. Eu fui a algumas feiras e senti bem o clima. Embora a feira seja gastronômica, existem conceitos mais subjetivos sendo passados ali e é com eles que eu me envolvo, sabendo que o que sair dali necessariamente estará transmitindo as ideias centrais do evento, ainda que elas não estejam objetivamente representadas em forma de comida.

Na sua sacola da Junta não pode faltar…
Umas verduras orgânicas, aquele brownie da Blueberry Pie, o doce de mel com chocolate e amendoim do Daniel e o chocolate da Quetzal. Mas isso é o que vai pra sacola. Os sanduíches, empanadas, outros brownies, café e cervejas eu consumo lá mesmo!

Abaixo os dois cartazes ilustrados por Daniel para a feira na Praça Mauá e a temporada de verão:

Assista o making of completo do cartaz da temporada de verão, acompanhe o Daniel pelo siteFacebook e Instagram, e veja mais um pouco de suas ilustrações.

Crédito da foto de capa: Laura Becker