Temos um importante comunicado para a nossa comunidade, principalmente para quem está acostumado a chegar junto pelas nossas plataformas online (Sacola da Junta, Assina Junta e Pede Junta).

Equipe Junta Local em visita a produtores. Foto: Samuel Antonini

A Junta Local está iniciando uma parceria com o Meu amigo tem um sítio, um negócio de impacto social e familiar nascido no estado do Rio de Janeiro que apoia grupos de pequenos produtores orgânicos e aproxima quem planta de quem consome. Como em todas etapas da evolução da Junta Local entendemos ser essencial compartilhar com todos o que acontece por dentro da nossa organização como forma de seguir na nossa proposta de ter toda transparência com quem nos apoia e para expor as dificuldades de empreender com a missão de mudança alimentar. Afinal, todo nosso idealismo, para se concretizar, precisa superar os desafios de um sistema alimentar e de uma economia que são pouco favoráveis para quem se importa com comida boa, local e justa.

Essa parceria começa pelo nosso site e sistema de entregas e relacionamento com produtores na nossa plataforma online. Com a mudança, a Junta Local passa a usar uma nova plataforma tecnológica e novo serviço de entrega. Assim será possível colocar em prática um antigo sonho de toda nossa comunidade: realizar entregas quase todos os dias da semana (de segunda a sábado). Desde nossa criação, tentamos trilhar um caminho intermediário, lançando mão da tecnologia e da cooperação, para facilitar o acesso à comida boa, local e justa, mas ao mesmo tempo conscientizar que a facilidade e conveniência, promessas vazias do sistema alimentar de massa, implicam num alto preço a pagar. Investir em tecnologia – se enxergar como uma “start-up” – para atender à sanha da comida a qualquer hora, especialmente da comida de melhor qualidade, costuma ser um ponto crítico para iniciativas como a nossa, que possuem um olhar mais amplo sobre o significado de tecnologia (que inclui a gestão e integração com feiras, a criação de processos de aproximação com “clientes” e produtores e por aí vai) e não estão dispostas a abrir mão de certos compromissos para se encaixar a um molde para “gerar escala e eficiência e, em última instância, permitir remunerar investidores. Sempre buscamos trilhar um caminho cauteloso, de buscar melhorias tecnológicas, de forma gradual e cuidadosa com os investimentos necessários para tanto.

Foto: Guilherme Cerqueda

A pandemia criou um frenesi, uma sensação de que um suposto futuro em que tudo seria online havia chegado. Esse futuro, acreditamos, não chegou e nem chegará enquanto houver compromisso com produtores, com a terra, com a qualidade e o frescor. Fazer um “delivery” de uma imensa variedade de produtos (frescos, congelados, refrigerados, secos, molhados, ovos!) é uma tarefa hercúlea. Some a isso lidar com couves que se murcham no caminho, preferências individuais, porteiros que desaparecem na hora do almoço. A solução é simplificar. Criar um app, digitalizar, diminuir a diversidade, trabalhar com produtos genéricos (ainda que orgânicos), investir em tecnologia, buscar um MVP e escalar, eliminar a complexidade da empresa diminuindo a área de atuação. Para satisfazer a esse império da conveniência muito vai ficando para trás.

Desde os dias de entrega apenas um dia por semana, de forma presencial, e sem cartão de crédito, até passado recente com entregas em casa, duas vezes por semana, mas ainda uma série de dificuldades deixamos claro para nossa comunidade que nossa opção é não sucumbir a essa lógica. Pensar na escala ideal do seu negócio, naquilo que é essencial, na cooperação para resolver o que a falta de investimento (afinal, empreendimentos que questionam muito o sistema não costumam ser um ótimo “negócio”) são decisões que vamos tomando ao longo do caminho, com muita tentativa e erro e perseverança.

Foto: Guilherme Cerqueda

Dito isso, certamente, oferecer boas opções para compras online, para conveniência, continuam sendo importantes, já sentimos na pele (e na terra) a diferença que isso pode fazer e não estamos prontos para jogar computadores e celulares na Baía de Guanabara (embora o pensamento passe pela cabeça em toda travessia da ponte). Mas no nosso caso, faremos isso com um olhar atento para valorização do produtor, do presencial e do sensorial, da criação de comunidade. O momento da pandemia e o refluxo que se deu após seu término, o grande florescer das feiras e mercados em todo mundo e o instinto que nos diz que comida é algo especial nos dá confiança a para seguir nesse caminho.

E passado esse momento, que nos permitiu dar vários upgrades na nossa plataforma online – você que faz a feira pela Sacola da Junta ou recebe as caixas do Assina Junta é testemunha disso – nos vimos de novo nesta encruzilhada. Num cenário de estagnação econômica e existência de todo tipo de concorrência na disputa pela atenção e reais que fazem uma empresa seguir de pé, os números da nossa plataforma online não eram animadores, apesar de toda base de clientes fiéis, de termos sobrevivido a todo tipo de alto e baixo enquanto outros atores ou saíam de cena ou eram engolidos. Nosso plano passou a ser buscar uma nova plataforma tecnológica, aceitando o fato de que a nossa havia já chegado ao seu limite e que o talento e foco da Junta Local deveria se concentrar em outras searas. Chegamos até mesmo cogitar o abandono temporário da nossa plataforma online para sua retomada num momento futuro quando outro cenário de concretizasse (espero poder falar mais disso em breve).

Eis que surge o Meu amigo tem um sítio. Quando começamos a buscar outra alternativas tecnológicas nosso caminho, por intermédio de produtores da Junta Local, cruzou com o de Ricardo e Fabiana, idealizadores do Meu amigo tem um sítio. Em 2016, em busca de uma vida simples e mais conectada com a roça, eles começaram a atuar para resolver a dor de quem está com a mão na terra: fazer sua produção chegar na mesa. Na trajetória deles foram contando muitas histórias e também desenvolvendo seu sistema de entregas. Se tornaram muito bons nisso. Quando começamos a conversar ficou claro que não apenas nossas missões apontam para o mesmo lugar mas que também nossas capacidades eram complementares. Fazia todo sentido trabalharmos juntos.

Foto: Guilherme Cerqueda

A afinidade em torno da missão, a trajetória semelhante nos deu o conforto para abrir conversas mais profundas sobre colaboração e planos par ao futuro. Olhando para planilhas e questões práticas ficou claro que poderíamos colaborar em outras áreas e tecer formas de ampliar nosso apoio a produtores orgânicos e locais. O primeiro passo será o uso da plataforma tecnológica do Meu amigo tem um sítio, de desenvolvimento próprio e cuja evolução se deu de forma orgânica, entendendo as necessidade de mercado e também de produtores e clientes. Assim como imaginamos a Sacola Virtual no começo da nossa história, essa plataforma poderá no futuro outra comunidades e resolver suas dores, algo que a parceria, com a troca de experiências irá propiciar, adentrando em questões como logística e compras. A Junta Local também emprestará todo seu know-how de curadoria e acompanhamento de produtores, que é essencial para quem está entrando no mercado e também para garantir sua evolução dentro de plataformas alternativas como a nossa. E esse início de parceria já se dará sob o mesmo teto. O Meu amigo tem um sítio se muda para a Rua do Mercado para operar pedidos das duas plataformas de cada vez mais integrada, com os ganhos de eficiências e trocas de experiência que potencializam nossa sobrevivência e crescimento.

Esperamos que, com isso, as duas organizações dêem uma passo adiante no sentido da maturidade, maturidade que por sua vez amplia o potencial das nossas missões.

O resultado disso será mais comida, boa, local e justa na sua casa e mais apoio a quem planta, colhe, cozinha, assa e faz. A nova plataforma possui ainda uma série de outras funcionalidades (como, por exemplo, uma carteira virtual) que tornará todo processo de compra online e direta mais eficiente e funcional, tanto para você que compra como para nós nos bastidores. A Sacola da Junta a partir do dia 12 de setembro já vai ter uma cara nova e em breve o mesmo acontecerá com o Assina Junta. Como a nova plataforma permite agendar o pedido para diferentes dias, inclusive o mesmo dia ou dia seguinte o Pede Junta, deixará de existir. E, mais importante, em nenhum momento abrimos mão daquilo que torna a Junta Local diferente. Conhecemos cada produto e produtor cujo trabalho você pode acessar pelo nosso site. Quando você compra uma alface pelo nosso site, você sabe quem a produziu e de onde ela veio. Não trabalhamos com um “pequeno produtor” abstrato, trabalhamos com pessoas com nome e sobrenome.

Seguir crescendo sabendo de onde vem e quem fez cada item da nossa plataforma – e criar uma relação com eles – é coisa muito séria para a Junta Local. E agora contamos com um novo amigo essa jornada.

Foto: Samuel Antonini