Temos uma confissão a fazer: a produção das nossas feiras não conta com nenhuma megaorganização profissional ou infraestrutura. Fazemos tudo muito na raça e já evoluímos bastante, mas persiste um certo amadorismo que de fato viemos a abraçar como parte do ethos faça-você-mesmo da nossa equipe.
Ninguém da Junta Local tinha qualquer experiência nesse quesito até o começo do projeto. As feiras, de certa forma, eram apenas um complemento à Sacola Virtual, com o intuito de trazer os produtores mais para perto e começar a partir daí a nossa rede social pela comida. Mas elas foram crescendo, nós fomos ganhando experiência e, principalmente, apoio de gente que tinha mais conhecimento no assunto, como a equipe da Casa da Glória. Porém, nunca quisemos fugir muito da nossa ideia de manter a feira como algo simples, desprovida de excessos. O foco são os produtores, a comida e a relação direta. Manter custos baixos é um dos pilares da nossa plataforma. O resto é firula. Já melhoramos bastante, mas não negamos que muitas vezes o que acontece é o improviso, a força de vontade e a união de todos nos momentos críticos.
Além disso, temos um segredo: Seu Hamilton. Muitas feiras já chegaram perto de colapsos elétricos e de outras naturezas, e, nessa hora, para nos salvar do sufoco, ele sempre estava lá, com seu espírito de leão, habilidade de MacGyver e um bom humor contagiante. Integrante da equipe de produção da Casa da Glória, já “pegamos emprestado” o Seu Hamilton em feiras na Rua do Rosário e outros lugares da cidade, seja para fazer frete, nos ajudar na montagem, cuidar da instalação elétrica ou o que quer que fosse. Nunca titubeou perante nossos chamados. Nunca cruzou os braços diante de um “perrengue”.
Por falar em perrengue, um fato marcante aconteceu durante uma feira realizada num dos cartões postais da cidade. Seu Hamilton estava ajudando no dia com o frete e foi ficando na feira, pois, afinal, se tornou amigo dos produtores e curte estar nos nossos eventos. Apesar da produção profissional do espaço, houve uma pane elétrica que deixou alguns expositores por horas sem poder vender sua comida e alguns, inclusive, tiveram seus equipamentos queimados. Diante do sofrimento dos produtores e da atitude blasé da equipe encarregada, Seu Hamilton arregaçou as mangas e tentou reverter a situação. Mas o buraco era mais embaixo e a feira foi um fiasco para quem necessitava de energia elétrica. Exausto ao final da feira, ele era o desolamento em pessoa. “Não consegui ajudar meus amigos, nunca consegui ajudar meus amigos”, ele repetia. Relembrar a cena comove até hoje.
Este é o único perrengue que Seu Hamilton não gosta de lembrar, por mais que não tenha tido qualquer responsabilidade pelo ocorrido. Mas o episódio foi relembrado aqui pois faz sobressair o profundo elo de amizade que foi criado entre ele e todos os produtores da Junta, que o festejam, abraçam e beijam quando ele chega em suas barracas.
Esse natural de Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, é simplesmente o homem mais procurado no começo das feiras, todos querem saber por onde ele anda para fazer algum ajuste elétrico, e enquanto tudo não está em ordem, o nosso Obelix de ouro não para de trabalhar. Mas essa popularidade toda não é apenas por ser tecnicamente crucial para a feira. Ele veste a camisa, conhece todos pelo nome e trabalha com prazer na Junta, pois sente o clima positivo entre os produtores. Depois, com tudo rodando macio, sim, ele curte a comida e as cervejas com os amigos.
Depois de mais uma feira na Casa da Glória, a oitava, estava mais do que na hora de fazer a nossa pequena homenagem ao Seu Hamilton. O sucesso das nossas feiras se deve muito a esse verdadeiro ajuntado.
Seu Hamilton, amigo, a Junta Local não existiria sem você. Muito obrigada!
Crédito da foto: Samuel Antonini