Nossa colaboradora, Luciara Franco, faz um balanço do projeto que já ajudou a integrar refugiados recém-chegados de diversos países.
Lá fora, a crise dos imigrantes é notícia que não acaba mais. São barcos cruzando o Mediterrâneo, famílias em fuga buscando abrigo desesperadamente e a simples sobrevivência. O Brasil acaba sendo um porto seguro para esses imigrantes, mas, por estar em um momento de crise, a situação deles pode ser igualmente penosa aqui. Embora ainda seja um receptor periférico, o país recebe um número cada vez maior de refugiados. São mais de 5 mil vindos de oitenta países, aproximadamente.
Apesar dos trancos e barrancos, algumas oportunidades chegam para essas famílias. É o caso do Chega Junto, projeto criado em outubro de 2015 para trazer os refugiados à grande comunidade da Junta Local.
A organização do projeto é feita pela própria Junta e pela Cáritas RJ, entidade de proteção legal e integração dos refugiados no Rio de Janeiro. “Com quase seis meses de projeto, vamos tentando envolver um número expressivo de refugiados, que vão fazendo um rodízio. A cada feira, trazemos uma família nova e outra que conhece o projeto e já participou de feiras prévias, colocando a mão na massa”, explica Diogo Félix, colaborador do projeto pela Cáritas.
Alguns deles acabam se inserindo como produtores da Junta, como o caso da colombiana Neli e sua filha Caty, que vendem arepas na brasa e já são convidadas a participar de outras feiras, independente do projeto.
Grávida do seu terceiro filho, Misshel Sánchez e seu esposo Gonzalo, da Venezuela, já participaram de duas feiras e estão dispostos a investir no negócio de cachapas como sustento da família. Com dificuldade para conseguirem autorização da prefeitura ou um emprego na cidade, Misshel vê na Junta Local uma ótima oportunidade. “Nós gostamos muito da experiência na feira e achamos que com mais um pouco de esforço podemos criar um negócio sustentável e que nos permita fazer um futuro aqui no Rio. Com nossa situação em termos de emprego, o meu esposo ainda está à procura e eu grávida, sem condições de procurar. A Junta seria a solução perfeita”, revela Misshel.
Para a refugiada síria Tülin Hashemi, que chegou ao Brasil há apenas seis meses e participou da feira duas vezes junto com a sua mãe Sanah, a feira não é apenas um local para vender comida, mas para conhecer novas pessoas e se divertir. “Pela Junta Local, eu encontrei alguns dos mais fantásticos amigos que mudaram minha vida no Brasil”, declarou Tülin, que além de dar aulas de inglês, está trabalhando com outros produtores da Junta na recém-inaugurada padaria The Slow Bakery.
Ivan Loutfi, também de família síria, é um dos novos amigos e alunos de inglês de Tülin e, como idealizador e colaborador do projeto, explica: “Em todas as feiras, vimos como todos ficam muito satisfeitos, pois além de venderem tudo o que trazem, é um espaço muito privilegiado de interação social e de troca com o público presente”.
Os organizadores da Junta também estão orgulhosos e têm carinho com o projeto, que funciona assim: reuniões são agendadas regularmente entre os colaboradores para alinhamento, discussão do projeto e boas-vindas aos recém-chegados, que apresentam suas sugestões de cardápio para a feira e são inseridos no contexto e proposta geral da Junta Local.
Thiago Nasser, um dos organizadores da Junta Local, diz que o projeto tem agradado ao público, se inserindo no perfil de engajamento sociocultural da feira. “Os nossos frequentadores, que já conhecem a qualidade dos produtos vendidos na Junta, se animam com o projeto pois, além da troca cultural, sempre aparecem novidades interessantes da gastronomia desses países, alimentos e modos de preparo que não encontramos facilmente por aqui”, explica Thiago.
Um exemplo foi o djenkoumé, uma comida originária do Togo, que foi vendida pela refugiada Louise Nya, na feira do Imperator, no Méier, em novembro do ano passado. Segundo Louise, para preparar a comida, não foi difícil encontrar todos os ingredientes, apesar de ser algo totalmente diferente e exótico para o público brasileiro. Antes da Junta, Louise já tinha vendido o prato uma vez na festa da Independência do Togo, e, nos dois eventos, foi aprovado por quem experimentou a iguaria togolesa.
Até junho, o projeto continuará trazendo novos países e dando espaço para os refugiados que já participaram do Chega Junto. O objetivo é preparar um “time” para uma feira exclusiva, que será lançada durante os Jogos Olímpicos.
Quem já faz parte do projeto Chega Junto?
Refugiada: Neli e Caty
País: Colômbia
Quando participou: Junta Local de Primavera na Casa da Glória | out.2015 e Natal Tropical na Rua do Rosário | dez.2015
Vende: arepas
O que é: um tipo de empanada colombiana com massa 100% feita de milho com recheios de carne, queijo e frango, e molhinhos especiais. São feitas na hora e assadas na brasa.
Refugiado: Misshel Sánchez e Gonzalo
País: Venezuela
Quando participou: Junta Local de Primavera na Casa França Brasil | nov.2015 e Junta Local de Verão na Casa da Glória | fev.2016
Vende: cachapas
O que é: espécie de panqueca feita à base de milho verde ralado e coado, esquentada na chapa, com recheio de queijo ou queijo com goiabada. Para acompanhar, são servidas chicha (bebida típica de arroz temperada com canela) e papelón (limonada com rapadura).
Refugiada: Tülin e Sanah Hashemi
País: Síria
Quando participou: Junta Local de Primavera na Casa França Brasil | nov.2015 e Natal Tropical na Rua do Rosário | dez.2015
Vende: awame, labaneh e tabule
O que é: o primeiro é um doce árabe vendido nas ruas de Damasco, feito com farinha, iogurte e calda de especiarias orientais. Já o segundo é uma espécie de coalhada seca feita de forma artesanal e temperada com azeite e hortelã seco. Na barraca, o labaneh acompanha pão caseiro e um tabule incrementado com tâmaras, amêndoas, damasco e outros temperos.
Refugiada: Louise Nya
País: Togo
Quando participou: Junta Leão no Imperator – Méier | nov.2015
Vende: djenkoumé
O que é: iguaria togolesa feita com fubá e acompanhada de carne, peixe e legumes. Na feira são servidos como acompanhamento os beignets de banane, bolinhos fritos de banana.
Refugiado: Rami e amigos
País: Síria
Quando participou: Junta Local de Primavera na Casa da Glória | out.2015
Vende: pão sírio
O que é: o pão sírio que conhecemos feito de forma caseira, com receita original e ingredientes simples, sem aditivos químicos e conservantes. Na feira, Rami oferece o pão com za’atar (mistura de especiarias) e azeite.
Refugiado: Anas Rjab
País: Síria
Quando: Junta Local de Verão na Casa da Glória | fev.2016
Vende: cupkibes e cuscus
O que é: com o intuito de vender uma comida árabe mais saudável, o cupkibe é vegetariano e assado, feito com ingredientes selecionados e acompanhado de pasteizinhos típicos com o delicioso cuscus salada.
Saiba mais sobre o projeto Chega Junto e também sobre o novo Entreposto na The Slow Bakery.
Crédito das fotos: Samuel Antonini