Texto por Susana Feichas, do Manacá Orgânicos*

Produzir orgânicos não é apenas uma forma de cultivar verduras, frutas, temperos e legumes sem agrotóxicos. Trata-se de respeitar a natureza e aqueles que trabalham na terra. Nessa produção, além de nutrir o solo, procura-se diminuir o desperdício de alimentos ao longo de toda a cadeia produtiva, do cultivo à entrega, passando pela colheita, embalagem e transporte.

O desperdício mais visível é o do produto que vai para o lixo, mas com este se vão pelo menos três meses de ocupação da terra, irrigação, adubo, defensivos – quando necessário – e o trabalho de pessoas que diariamente cuidam de cada planta, observando seu crescimento e suprindo suas necessidades. Além disso, existe também o consumo de combustível, mão de obra no transporte e o trabalho de montadores e administrativos.

Ao oferecer cestas fechadas ou entregas a partir de encomendas, se colhe o que está pronto na quantidade vendida e segundo a diversidade que nos é oferecida: grande, pequena, reta, torta. Por que não? Se nem as digitais de nossos polegares conseguem ser iguais… Trata-se de produtos perecíveis sujeitos ao clima e percalços que ocorrem no transporte. Chuva, calor, estiagem e geada são alguns dos agentes naturais que influenciam os cultivares. Caminhão quebrado e engarrafamento são fatores de outra ordem que igualmente afetam as entregas.

A essas causas se soma a defasagem entre diferentes momentos: disponibilidade dos produtos, informação dessa disponibilidade para o cliente, colheita e entrega. Estima-se a disponibilidade em função do numero de sementes plantadas, tamanho do canteiro e o ponto de crescimento da planta, mas não se tem certeza se estarão acessíveis no momento da colheita que ocorre cinco dias depois. Cenouras, beterrabas e tubérculos em geral são uma incógnita, não se sabe ao certo seu tamanho, pois estão debaixo da terra. O calor ajuda no crescimento de folhas como couve, espinafre, alfaces, mas se falta água ou venta demais elas sofrem, ficam raquíticas, crescem mais devagar no frio ou apodrecem com muita chuva. Há ainda produtos como abacate e maracujá cuja qualidade está por trás de sua casca, conhecida somente depois de aberta. Enfim, a incerteza faz parte desse tipo de negócio. Nem sempre se logra entregar todos os produtos solicitados e encomendas de verduras não retiradas não são revendidas, porque perderam qualidade. Na produção convencional dificilmente falta, pois se produz excedente e se busca produtos em outros estados com os custos socioambientais que essas práticas acarretam.

Um olhar mais atento no nosso lixo doméstico, no final das feiras semanais que acontecem pela cidade e no fechamento de restaurantes e supermercados nos dá ideia de quantos quilos de alimentos são deitados fora todos os dias. E com estes se está jogando fora as sementes, os meses de trabalho, o uso da terra, a energia do sol, o consumo de água, o tempo de crescimento de cada cultivar e o trabalho de inúmeras pessoas.

Comprar alimentos orgânicos não é apenas consumir produtos mais saudáveis, mas uma atitude de consciência do recurso e trabalho envolvido até que verduras, frutas, temperos e legumes cheguem ao nosso prato.

* Conheça o Manacá Orgânicos pelo Facebook e vídeo da série Junta Local Vai.

Crédito da foto: Henrique Moraes