Texto da colaboradora Luciana Martinez
Sou a típica cozinheira de fim de semana e, confesso, alguns ingredientes ainda me dão um certo medo. Cozinhar começou para mim como um misto de brincadeira e tentativa de aliviar o bolso sem deixar de lado a boa comida. É que comer é comigo mesmo. Mas o que começou como atitude lúdica e solução para um desafio orçamentário foi se transformando em um prazer. A vontade de explorar novos ingredientes foi crescendo e o projeto de melhorar minhas habilidades culinárias foi se impondo. E, bom, foi numa dessas que chegamos ao protagonista dessa postagem: o (para mim, então, temível e desconhecido) mexilhão.
Há alguns (muitos) meses, venho tentando comprar meus mexilhões na Sacola Virtual. Mas parece que não sou a única de olho neles. Sempre que eu tentava comprar as conchas… Produto esgotado. Sei que os produtores da Junta Local são pequenos e que a oferta na Sacola Virtual pode ser limitada. Em vez de me frustrar com as tentativas fracassadas, decidi, como boa obsessiva, apelar para o método. Me programei para fazer a Sacola bem no início da semana, quem sabe até no exato instante em que ela abrisse. E consegui comprar os tão desejados moluscos. Para comemorar, meu namorado e eu marcamos logo o almoço. Sabadão, pós-sacola. E, já que estávamos brincando, por que não chamar uns amigos e completar a brincadeira com umas ostras de entrada? Hmmm… Alterar pedido, incluir ostras, fechou.
Na verdade, foram as ostras e mexilhões da Fazenda Marinha Vieiras da Ilha, linguini fresco do Laboratório di Pasta e uma pimenta dedo de moça orgânica lindinha, pequena e deliciosa que viria lá de Silva Jardim pela Quitanda Natural. Aí sim, confirma. Sacola encomendada. Só que no dia seguinte, tive que mudar o pedido de novo. Entraram mais um queijo da Serra da Canastra e o melhor pão multigrãos que já experimentei na vida (ele é feito por um misterioso padeiro que usa como fachada o nome CB Pane). Agora, de fato, menu fechado: ostras e queijo (não resisto) de entrada e massa com mexilhões de prato principal. Aí, você olha e pensa: “Ela diz que começou a cozinhar há pouco tempo e vem com esse papo de ostra e mexilhão?”. Justamente. Bons ingredientes, preparo simples. Cozinheira sai bem na fita.
Para as ostras, descolei uns limões sicilianos. Um amigo providenciou um cooler com bastante gelo para as bichinhas ficarem lá tomando ar fresco enquanto a gente se organizava.
Mas vamos ao que interessa. Como abrir ostras? Como meu amigo explicou, é tudo uma questão de encaixe. O negócio é segurar a ostra com a parte mais côncava para baixo, colocar a faca (dizem que existe uma especial para a tarefa, mas não foi dessa vez que fomos apresentados) na parte mais estreita da concha e, quando sentir que encaixou, dar uma girada. Voilà. De resto, é só espremer um pouco do suco do limão no animal geladinho e ser feliz. Se tiver um espumante, fica melhor ainda. No caso, tenho um namorado metido a harmonizador de vinhos para me dar todas (e mais algumas) instruções sobre isso, mas não é nenhum segredo que ostras e espumante formam um belo casal. Sobre a quantidade, cada quilo de ostra dá umas doze conchas. Como éramos quatro, pedi 1,5kg e ficou de ótimo tamanho.
Próxima etapa: o prato principal. Desde que cismei com a ideia de cozinhar mexilhões, venho procurando receitas. Parece um consenso que trata-se de um ingrediente que vai em pratos fáceis. Agora posso engrossar este coro: é mesmo muito simples cozinhar com essas conchas. Vamos aos ingredientes. Nesta receita, eu usei: as pimentinhas dedo de moça, alho, bastante azeite, vinho branco, salsinha picada, uns 500g de linguini e 1kg de mexilhão. Primeiro, é preciso ferver os mexilhões até as conchas se abrirem. Atenção: as que não se abrirem devem ser jogadas fora, é sinal de que não estão boas. No meu caso, todas se abriram lindas e com a carne vermelhinha. Como as ostras, os mexilhões vendidos na Sacola Virtual são pescados no próprio dia de distribuição das vendas, no sábado. Os dois estavam fresquíssimos.
Aí, vamos lá. Você escorre os mexilhões e preserva a água. É com ela que você vai cozinhar o macarrão depois, lá no finalzinho da receita. Sigamos. Corte uns quatro dentes de alho em tiras verticais finas. Repita o mesmo estilo de corte com as pimentas dedo de moça, sem esquecer de tirar as sementes. Como elas estavam pequenas, usei quatro também. Coloque o alho e as pimentinhas em uma panela (eu usei uma wok) com azeite e vá levando com cuidado para a coisa não dourar. Depois, é só acrescentar os mexilhões já cozidinhos e bastante vinho branco (aí é no olho, no feeling e no bom senso).
Enquanto os mexilhões ficam lá no vinho, é hora de – em outra panela – cozinhar o macarrão. A água? A do mexilhão, lembra? O grande segredo é tirar a massa sempre uns dois ou três minutos antes do que a embalagem indica. Se a massa for fresca, como é o caso da vendida na Sacola, preste atenção, porque fica no ponto (inacreditavelmente) rápido. Depois de escorrer o macarrão, junte a massa aos mexilhões, jogue um pouco da salsinha picada e deixe lá cozinhando mais uns minutinhos. Antes de servir, pode jogar mais salsinha por cima da massa. Bom apetite! Ah, o namorado harmonizador foi de vinho branco dessa vez.
Um prato simples, rápido, indolor e delicioso. Em menos de vinte minutos (e uma boa Sacola, não esqueçamos dela), você tem um linguini com mexilhão para fazer a alegria do fim de semana.
Crédito das fotos: Luciana Martinez