Texto por Guilherme Mattoso
A explosão da cultura cervejeira no Brasil definitivamente é uma realidade e no Rio de Janeiro o cenário não é diferente. Se você gosta de cerveja e não esteve perdido em uma ilha deserta nos últimos anos, sabe do que estamos falando. O setor vem passando por uma verdadeira revolução que vai além do chão das fábricas ou das importadoras, e transborda principalmente das panelas, cozinhas e quintais nos quatro cantos da cidade.
Foi nessa onda que, há pouco mais de dois anos, os amigos Pedro Butelli e Vinicius Kfuri uniram a paixão em comum pelas cervejas artesanais e começaram produzir as suas próprias receitas em casa. Assim nasceu a Hocus Pocus, uma das mais celebradas microcervejarias cariocas, dona de rótulos delirantes no sabor e no design (feitos por Daniel Gnattali), como a Magic Trap e a APA Cadabra.
O talento dos rapazes se traduz em números também. Nesse curtíssimo período de vida, a cervejaria multiplicou a produção de mil para oito mil litros por mês, está presente nos principais bares e eventos, ganhou mais um sócio, o Bruno Mansur, e lançou as deliciosas Hush (feita em colaboração com o chef Rafael Costa e Silva, do Lasai) e Interstellar.
Parceiros desde as primeiras edições da Junta Local, temos acompanhado de perto essa caminhada, desde a participação na segunda edição da feira – ainda em setembro de 2014, com a Magic Trap fluindo do tradicional coolerzinho laranja – até o destaque com direito a premiação no recente megaevento da Mondial de la Bière. A cada Junta vimos o surgimento de uma nova cerveja e o desenvolvimento da Hocus Pocus em paralelo às mudanças profissionais de Pedro e Vinícius, que nesse período largaram, respectivamente, trajetórias promissoras no mundo acadêmico e mercado financeiro e se jogaram inteiramente na empreitada.
A Junta Local se identifica plenamente com o entusiasmo de Pedro e Vinícius não apenas pela técnica e apuro na produção, mas pela noção clara de que trabalhar com o que gosta e com quem se gosta torna a empreitada da produção local uma opção de vida em que sabor e valores andam juntos. Os rapazes não perdem a simplicidade nem a gente o prazer de provar suas criações e trocar ideias, seja na calçada da Comuna, onde seu chope é vendido, ou no apagar das luzes de uma das feiras da Junta Local.
Em seguida o bate-papo que tivemos com o Pedro.
Como surgiu a paixão pelas panelas e o que os motivou a transformar um hobby em empreendimento?
Nós gostávamos muito de descobrir cervejas novas, que nos surpreendessem, e a ideia de poder fazê-las em casa, com total liberdade para criar a receita que quiséssemos, era algo que nos atraia bastante. Só transformamos isso em negócio depois de ganhar alguns concursos de cerveja artesanal. Foi quando nos convencermos de que não só os amigos e a família gostavam das nossas cervejas.
Recentemente o Bruno Mansur uniu-se a vocês. Como está sendo o trabalho em trio?
Está sendo ótimo! O Bruno ajudou a dar um impulso à cervejaria que nós não conseguiríamos dar. Tanto eu quanto o Vinicius já estávamos atolados de trabalho e o Bruno surgiu para dar aquela desafogada e contribuir com ideias novas. Além disso, ele está se tornando o nomeador oficial das nossas cervejas: Hush e Interstellar foram basicamente ideias dele.
Como vocês estão se organizando para dar conta de um crescimento tão rápido?
Todos os sócios têm liberdade para “se meter” em qualquer área, mas cada um tem responsabilidades definidas. Eu cuido do marketing, branding e eventos. O Vinicius fica responsável por produção e finanças e o Bruno cuida da área comercial e logística. Todos nós participamos da criação de novas receitas e dos “próximos passos” a serem dados.
Quais são os maiores desafios de ser um cervejeiro no Rio de Janeiro?
Impostos altíssimos, pouco poder de negociação para conseguirmos abaixar qualquer custo e alto investimento necessário para termos nossa própria fábrica.
Em 2015 vocês deram um salto: aumentaram a distribuição, lançaram novos rótulos e fecharam várias parcerias. O que mais vem pela frente?
Já temos várias receitas quase prontas para serem lançadas, então a ideia é mantermos o ritmo de lançamentos que vínhamos tendo. A Coffee Hush, lançada extraoficialmente no Mondial de la Bière do ano passado, vai se tornar uma cerveja fixa (muito provavelmente com outro nome) e começamos a entrar em São Paulo, vendendo em alguns bares por lá. A ideia é expandir mais, tanto dentro do estado do Rio quanto em outros estados também.
O que é mais recompensador neste trabalho?
Sem dúvida nenhuma é ver alguém tomando uma das nossas cervejas pela primeira vez e tendo aquela surpresa de levantar as sobrancelhas e arregalar os olhos, sabe?
Qual música anda tocando na sua playlist, que melhor representa este momento da Hocus Pocus?
Se você nos perguntar semana que vem, muda, mas por agora é: Radio Moscow, Augustine Azul, Psilocibina, Pink Floyd e Charlie & Os Marretas.
Crédito da foto: Samuel Antonini