Há um tempo estamos em busca de um bom gim na Junta Local. O cuidado com ingredientes, a produção artesanal e em pequena escala chegaram há um bom tempo ao universo das cachaças e das cervejas artesanais. Trata-se de uma tendência positiva, pois sublinha a necessidade de cuidado com ingredientes e incentiva a criatividade de pequenos produtores. Nesse universo, as grandes empresas de cervejas e destilados genéricos, impulsionadas muito mais por marketing do que sabor e valorização de produtores, dão lugar a pequenos empreendedores apaixonados por bebidas, que exploram uma gama muito mais ampla de sabores e juntos formam um verdadeiro movimento. Na costa oeste americana e nos arredores de cidades europeias já se observa a proliferação de pequenas destilarias lideradas por jovens, hipsters, e apreciadores de toda sorte.
Com isso, ficam para trás os tempos em que tomar um drinque significava tomar uma caipirinha ou uma daquelas bebidas azuis com gelo seco. Nosso gosto se sofisticou – e para o bem. Não se trata de apenas um modismo. O gosto leva a mudanças em várias frentes. Por um lado, estamos resgatando tradições como as cachaças de qualidade e os drinques com cachaça – até chegar no bom e velho rabo de galo, como gosta de propagar Sandra Mendes, produtora da Junta e nossa expert no assunto. Por outro lado, também ficamos mais cosmopolitas, curtindo os amargos do negroni e viajando nos botânicos de um gim tônica bem feito. E todo bartender (ou mixologista), assim como um bom cozinheiro, diria: para fazer um bom drinque, você precisa de bons produtos.
Avançamos muito para nos livrar do preconceito contra a cachaça e entramos agora numa nova fase de exploração das bebidas que chega aos destilados, e um gim é uma bebida especialmente apta para isso. Feita a partir de uma base neutra de destilados, sua principal característica é a presença do zimbro. No entanto, muitos outros elementos aromáticos podem ser utilizados, o que abre um mundo infinito de possibilidades… um mundo de possibilidades tão infinitas quanto as da flora brasileira, ainda relativamente muito pouco explorada.
É exatamente isso que faz o pessoal por trás do gim Virga, que de certa forma cria a ponte entre a tradição e a inovação. Utilizando um destilado de cachaça como base (por sinal um dos fundadores da Virga é Felipe Januzzi, criador do Mapa da Cachaça e um dos maiores especialistas em cachaça no Brasil), a receita ainda leva, além do zimbro, sementes de coentro, sementes de pacová, uma planta que cresce na Mata Atlântica, e 5% de uma cachaça desenvolvida especialmente para o gim.
Felipe se juntou a Joscha Niemann (que é da Holanda, onde se faz o jenever, bebida que por sua vez deu origem ao gim) e mais dois sócios para criar a história da Virga. Após uma viagem a Berlim para falar sobre cachaça, ele conheceu a produção de gim artesanal e voltou inspirado para criar algo que tivesse cara de Brasil. Buscou o apoio de engenheiros de produção no interior de São Paulo e chegou à sua receita e proposta da Virga. Nas palavras dele: “Nós queremos fazer do gim uma maneira de conhecer o Brasil aos poucos, e não engarrafar um perfume inusitado para turistas buscando experiências rápidas e não inspiradoras – não queremos que gostem do nosso gim por ele ser exótico, queremos que gostem dele por ser único, por contar uma história e por nos ajudar a entender e valorizar nosso país.”
Pesquisando a história da Virga, entramos em contato com Felipe e Joscha e logo nos encontramos numa manhã chuvosa no Rio de Janeiro para um café (com um pouquinho de gim) na The Slow Bakery. Conversamos muito e a sintonia foi imediata.
A espera acabou. Eles farão sua estreia neste sábado, na nossa feira na Christ Church Rio, oferecendo garrafas da bebida e também preparando gim tônica e o clássico French 75, com limão e espumante.
Saúde e vida longa à nova onda de destilados artesanais brasileiros!
Crédito das fotos: Leo Feltran