Por Maria Schatovsky
A curadoria que fazemos na Junta Local é a nossa maneira de assegurar que os produtos que a comunidade encontra em nossas feiras e plataformas são bons, locais e justos. Recentemente nos deparamos tendo que escrever um pouco mais sobre esse nosso processo e o ajuntamento de novos produtores – processo onde pesquisamos, provamos, conversamos e visitamos produtores para garantir que tudo esteja de acordo com a nossa carta de Valores e Princípios. Os produtores selecionados pela nossa curadoria passam a fazer parte de um “Modelo Ajuntativo”, um guia de participação construído pelos próprios produtores e equipe da Junta Local, e além de se tornarem oficialmente “ajuntados” e participarem das plataformas, também contribuem para o coletivo, com a troca de experiência e conhecimento, como forma de aperfeiçoar nossas plataformas e continuar transformando o sistema alimentar.

Durante a pandemia, muito desse processo teve que ser adaptado – reuniões online, visitas a produtores praticamente suspensas. Com a retomada das nossas atividades presenciais, cada visita e conversa se tornou ainda mais especial. Hoje, aqui no Junta Local Vai, contamos um pouco mais sobre nossa ida ao Food Garden, novo ajuntado e produtor de hortifruti. Muito mais que um certificado orgânico, ao visitar o produtor constatamos diversos outros aspectos.

Quando Carol e Mário entraram em contato com a gente contando um pouco sobre a produção e a história deles, já dava para ver os olhos brilhando. Antes do ajuntamento oficial, foram muitos papos, algumas participações em feiras e finalmente uma visita até – a terra deles onde pudemos ver de perto como a produção é feita, como é a relação com outros produtores do entorno, a rastreabilidade dos produtos, e entender detalhes importantes como a forma de precificação dos produtos.  Até chegar lá foram muitas as mudanças de agenda por conta de imprevistos e chuvas. Até que enfim fomos. Apesar da garoa fina, enchemos a garrafa térmica de café (sim, nossa equipe anda aficionada na bebida desde o nosso último lançamento da caixa de descoberta “Do Pé à Xícara”) e seguimos a curta viagem até Teresópolis, mais especificamente em Prata dos Aredes.

Chegando lá fomos recebidos pela Carol e o Mário. Passando pela porteira, a impressão é que estamos entrando em um pequeno quintal, que ao longo dos passos vai se descortinando e revelando em pequenas parcelas área maiores de produção, onde vai se revezando uma variedade de legumes e verduras incrível.

No café da manhã que precedeu tudo, conhecemos mais a história deles. O casal, que nunca tinha trabalhado com a terra, acabou sendo conquistado pela proximidade de uma vida mais próxima de seus ideais e de comer o que se produz. A procura por um espaço demorou um pouco, e acabou cruzando caminho com o Jürg Studer, que estava à procura de alguém para arrendar parte de sua terra e dar continuidade no trabalho com a agricultura orgânica no local. Mário e Carol abraçaram, conquistaram a confiança de Jürg e deram o pontapé inicial. Nesse meio tempo a pandemia veio, o casal ficou isolado no sítio e a produção em abundância e a busca por uma alimentação mais saudável com harmonia em volta da mesa deu origem ao Food Garden Orgânicos.

O Food Garden fica localizado numa área protegida com 45 hectares de matas e agrofloresta e com uma área plana com cerca de 2 hectares, onde a plantação é toda orgânica certificada. O entendimento da natureza, seu tempo e suas necessidades é o princípio máximo por ali. O casal também é membro integrante e atuante da Associação Agroecológica de Teresópolis e da Associação dos Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro, o que permite a articulação e parceria com diversos outros pequenos produtores da região.

Fomos caminhando entre os canteiros e as conversas foram surgindo: o pé de nêspera na entrada da casa que lembra a infância do Thiago, o cultivo de variedades “esquecidas”, como a beterraba amarela, a suculência do morango, que fica parte do dia coberto para evitar que outros animais se deliciem e não deixem nada pra gente, o tamanho das folhas do repolho roxo e o mito que a agricultura orgânica não consegue produzir alimentos bons e ao mesmo tempo limpo e justos, o perrengue da maturação das bananas, os parceiros de produção e como remunerar de forma adequada e dar acesso a alimentação boa, local e justa, a produção própria de sementes, e claro, como é bom comer ervilha torta direto do pé, que não é pé é trepadeira.

Visitar produtores é sempre uma forma de reforçar nossos valores e princípios e nossos processos de curadoria. Tem que ser delicioso e não ter veneno, temos que saber quem faz, de onde vem e como é feito.

Quer conhecer um pouco mais do trabalho do Food Garden? Acesse a Sacola da Junta e garanta já sua variedade de verdinhos e coloridos locais.