Oliq: Estr. Mun. José Maria Gonçalves, km 8, São Bento do Sapucaí – SP

Se os queijos artesanais são produtos que encontram uma tradição e base produtiva para se construir novas perspectivas, o mesmo não vale para azeites. Nem todos sabem, mas é recente a produção de poucos, porém excelentes azeites no Brasil. E a nossa parada do quarto dia de viagem foi justamente em um dos principais produtores de azeites nacionais: a Oliq, que participa das plataformas da Junta Local com seu azeite de sabor e frescor desconcertantes.

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A olivicultura no Brasil é bem pequena e praticamente desconhecida. Na verdade, é um movimento liderado por um pequeno número de empreendedores rurais que tenta lançar raízes em território completamente novo, e ao mesmo tempo enfrenta um mercado saturado de marcas estrangeiras e o bom e velho preconceito contra produtos nacionais. No entanto, guardam na manga um trunfo: o frescor. Ao contrário dos bons vinhos, que geralmente requerem um período de descanso e envelhecimento, os compostos do azeite são extremamente sensíveis e portanto quanto mais novo, melhor.

Trata-se de algo que a enorme indústria de azeite de oliva na Europa não garante. Abalada por uma série de escândalos que colocaram em dúvida a pureza e origem de marcas conhecidas (recomendamos a leitura do livro “Extra Virgindade: O Sublime e Escandaloso Mundo do Azeite de Oliva” de Tom Mueller), tem-se o agravante de que os azeites que chegam no Brasil não são necessariamente os mais frescos. Enquanto isso, os azeites produzidos em território nacional viajam curtíssima distância e são produzidos por nanoprodutores apaixonados pelo que fazem.

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Por conta dessa característica, desde o princípio da Junta Local, quisemos oferecer espaço para olivicultores brasileiros. No caso da Oliq, a relação começou após um telefonema-convite para participar de uma das nossas primeiras feiras na Casa da Glória. Felizmente as produtoras Vera Masagão e Cristina Vicentin toparam vir às cegas. Não só vieram, mas participaram de um bate-papo e nos encantaram. Desde então é possível encontrar seus azeites na nossas feiras e Sacola Virtual.

E para conhecer como é feito o azeite e a história por trás da Oliq, nada melhor que uma visita in loco, no coração da Serra da Mantiqueira. No entanto, 367 quilômetros nos separavam de Itapetininga – SP a São Bento do Sapucaí – SP, onde ficam as terras e o lagar da Oliq.

Saímos de Itapetininga depois de um almoço composto basicamente por uma sucessão de queijos. Depois de duas centenas de quilômetros por rodovias movimentadas, queríamos logo estar mais perto da natureza. Talvez por isso aceitamos muito prontamente a sugestão do GPS por um “caminho mais curto”. Faltou avisar que esse caminho era uma estrada de terra no alto da serra, fazendo curvas de 180 graus e beirando precipícios. No final, encaramos uma uma íngrime subida no escuro com as rodas girando em falso até chegar na casa da Cris, onde dormiríamos.

Milagrosamente chegamos, e de manhã a recompensa. Estávamos em um lindo casarão cercado por campos e morros, com quartos amplos e uma cozinha com forno a lenha. O casarão é a sede da fazenda e ponto de encontro da família de Cris, e foi onde as primeiras oliveiras foram plantadas em 2003, antes da Oliq existir. São seis hectares plantados com as variedades arbequina, grappolo, koroneiki e maria da fé. Cris é professora universitária em São Paulo, mas não deixou de ter o pé na roça desde que saiu de sua terra natal, Paraisópolis, no Sul de Minas.

De manhã fomos até a propriedade de Vera e Antônio, que também moram em São Paulo durante a semana e trabalham na área educacional. A paisagem até chegar lá é deslumbrante e ao mesmo tempo inusitada, pois de repente, após passar por matas fechadas, nos deparamos com encostas repletas de oliveiras. No sopé das encostas fica uma construção de bela arquitetura ao mesmo tempo rústica e minimalista que abriga o lagar e também funciona como espécie de ponto de apoio para visitantes.

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Fomos recebidos por Mario Marcolino, o encarregado do pomar e também operador dos equipamentos de extração, que faz as visitas guiadas da propriedade. Podíamos ver Vera no alto de uma das encostas. Fomos informados que ela estava na companhia de um consultor, ex-gerente da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). Aliás, esse órgão de apoio a produtores agrícolas é responsável pelo pontapé na produção de azeites no Brasil. O centro de pesquisa da Epamig em Maria da Fé, Minas Gerais, após identificar que o clima da Serra da Mantiqueira, com dias frios e secos, poderia receber oliveiras, desenvolveu, inclusive, uma variedade de azeitona mais adaptada à região, a maria da fé.

Na companhia de Mário, vimos a enorme máquina, importada da Itália, que processa as azeitonas não só da Oliq, mas também de outros produtores da região. A engenhoca recebe as azeitonas em estado bruto, realiza a lavagem, prensagem e centrifugação, processo que resulta no azeite, que foi como terminamos o tour inicial: provando os diferentes azeites feitos ali alguns meses antes. Aliás durante boa parte do ano a engenhoca descansa. A colheita se dá nos meses de fevereiro e março, que é quando o lagar funciona. Ao longo dos outros meses do ano, a única coisa que podemos fazer é saborear os azeites e esperar a safra do ano seguinte. Este é aliás um dos desafios na cultura do azeite, enfatizar o frescor e a safra, que também sofre variações de acordo com as condições climáticas.

Logo depois Vera chegou (Cristina tinha compromissos em São Paulo) e começamos a conversar mais sobre como a Oliq começou e os desafios para os produtores de azeite. A conversa ficou registrada no vídeo a seguir.

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Mais tarde andamos pelo olival. Vera nos levou até o topo da encosta e nos mostrou onde estavam plantadas as diferentes variedades: arbequina, koroneiki e maria da fé. Vimos também as novas mudas de oliveira sendo plantadas, de olho no futuro.

A visita terminou na casa de Vera, onde a família se reunira para o feriado. A construção é moderna, de extremo bom gosto, inspirada no estilo colonial. A cozinha dispunha de todas as aparelhagens contemporâneas, mas um fogão à lenha no centro da cozinha, comandado pela mãe de Antônio – era o centro gravitacional da casa. Comemos um farto almoço caseiro, com direito a pastel de angu e feijoada. Tudo muito tradicional, em uma das propriedades mais inovadoras do país.

Para conhecer um pouco mais sobre a Oliq, visite www.oliq.com.br