Por Thiago Nasser
Quem nos acompanha sabe que a revolução alimentar se faz com o garfo mas também com o megafone. E esse ano ainda tivemos a presença de um dos melhores amigos do megafone: o voto. Considerando os retrocessos do ponto de vista alimentar no Brasil (retorno da fome, alta de preços, sucateamento de políticas de apoio à agricultura familiar) usá-lo de forma efetiva foi essencial. E como nossa missão passa por esse terreno, fazemos aqui o nosso sobrevôo de como foi 2022 deste ponto de vista.
Uma das grandes satisfações do ano foi o nosso ingresso na World Farmers Market Coalition, uma organização fundada durante a pandemia congregando operadores de mercado do mundo todo. Essa coalizão ainda está em formação (um congresso para definição do estatuto acontecerá ano que vem), mas já mostrou a que veio se tornando um intenso ponto de contato com pares no mundo todo. Já foram muitos os encontros online promovidos com gente de países tão diferentes como Dinamarca, Peru e Gana, mas em todos eles ficou nítido que somos o mesmo “bicho”, existe o tal homo feirantis localis por todo lado e quanto mais se unirem melhor reforçam essa identidade, aprendem um com o outro e reivindicam o que acreditam ser melhor para um mundo melhor (respostas: mais e mais feiras).
A Junta Local esteve presente também, fazendo dobradinha com o WFMC, no encontro do Pacto de Milão, realizado este ano no Rio de Janeiro. Para quem não sabe o Pacto de Milão é um conjunto de diretrizes proposta pela ONU para fortalecer sistemas alimentares locais, principalmente dentro da esfera municipal. A cada 2 anos gestores públicos, ativistas e entidades da sociedade civil se reúnem para medir os avanços e premiar iniciativas. A Junta Local liderou uma das sessões, mostrando a importância de uma nova geração de feiras e mercados na construção da resiliência alimentar. Tivemos uma intensa troca principalmente com Carlos Gago, da Agroferias Campesinas de Lima, Peru. Ao longo de três dias, nossa equipe esteve lá para conferir tudo de perto. As muitas sessões do encontro estão disponíveis nesta playlist do youtube:
E ainda sentimos na prática os efeitos da falta de políticas públicas voltadas para sistemas alimentares locais. Não fizemos alarde, mas no meio do ano houve a revogação de um decreto que facilitava a realização das nossas feiras. Foi preciso muita mobilização com outros organizadores e muito chá de cadeira na prefeitura para conseguirmos um decreto permitindo a realização das nossas feiras. Este tipo de mudança e falta de políticas consistentes têm sido comuns desde que começamos. Apesar da boa vontade e reconhecimento do prefeito Eduardo Paes ainda falta muito.
No campo minado do Brasil “polarizado” não foi difícil escolher. De um lado, uma frente política empenhada em destruir, e do outro a opção para voltarmos a falar sobre políticas públicas voltadas para a alimentação, participação democrática na governança do sistema alimentar, preservação da diversidade e erradicação da fome. Foi um prazer ter participado de atos para demonstrar de que lado o nosso movimento pela comida boa, local e justa estava.