O mercado cervejeiro no Brasil está mudando e crescendo com um grande número de produtores locais. A nossa colaboradora, Liana Rangel foi entender melhor o que vem causando essa mudança e crescimento. Confere aqui.

Texto por Liana Rangel.

Acompanho mudanças do cenário cervejeiro desde 2009, sei que não é muito tempo, mas adoro levantar um copo, então mergulhei de cabeça nisso. Comecei a degustar mais cervejas artesanais, e foi como abrir o barril de Pandora. Esse curto período coincide com um momento de intensa evolução, não só para o lado consumidor, com uma radical mudança no paladar e hábitos, mas também no processo produtivo. A oferta e a demanda de cervejas artesanais entraram numa profunda transformação e o mercado cervejeiro carioca é um dos que mais cresce no Brasil.

Vou começar pela oferta. Veja seus amigos: não tem um monte que bebe cerveja artesanal agora? Muitos que até há pouco tempo nem ligavam? Além do papo de bar sobre a bebida ter milho e a forte entrada de uma cerveja de marca holandesa (que todo mundo achava forte e muito amarga), o consumidor está aprendendo a falar sobre diferentes estilos e processos de fabricação.

Foto: Samuel Antonini

Foto: Samuel Antonini

Uma particularidade do processo é o papel das panelas nesse cenário. Muitos apreciadores e consumidores se transformam em cervejeiros, produzindo em casa e com os amigos. Esse contato com a produção cria consumidores com alto nível de exigência e compreensão completa da cadeia. Por mais que o mercado e as grandes empresas tentem se aproveitar da tendência fazendo cervejas “artesanais”, o fomento da cultura cervejeira, o crescimento da oferta e os testes e inovações começam nas panelas!

São os paneleiros, que passam de consumidores a produtores, que tornam esse cenário mais interessante. Há pouco tempo, por aqui se vivia num cenário muito parecido com o mercado americano da década de 70, com poucas cervejarias e a maioria fabricando cervejas no mesmo estilo: aguadas, sem sabor e que só podem ser consumidas estupidamente gelada. Nos EUA, a revolução começou na Califórnia com os cervejeiros caseiros. E com ela surgiu uma legislação para o homebrewing e facilidades tributárias para os produtores de pequeno porte, fomentando uma “onda lupulada” e bem refrescante, que atualmente tem mesma relevância das tradicionais escola cervejeiras: alemã, belga e inglesa.

Lupulo

Fervura de lúpulos em flor.

O Brasil está começando a formar o seu movimento cervejeiro caseiro e de micro-cervejarias artesanais. Em um papo informal com o Marcio Beck, escritor do blog Dois dedos de colarinho, conversamos sobre o mercado brasileiro e americano. No meio da conversa, ele falou uma coisa sobre o mercado brasileiro muito interessante: “Vejo que o movimento artesanal tem raízes mais fortes nos estados onde a cerveja caseira era mais comum, daí o fato do Sul (de forte colonização alemã) se destacar. Claro que esse não é o único fator, já que temos estados como São Paulo e Minas na jogada, mas me parece que forneceu uma base para a coisa se desenvolver.

Por aqui, temos os estados das regiões Sul e Sudeste (com exceção do Espírito Santo) com um forte movimento de cervejeiros caseiros e cervejarias de pequeno e médio porte. Temos também grandes cervejarias artesanais sendo vendidas para gigantes da indústria e grandes festivais de cerveja espalhados por esses estados. Essa movimentação sempre deixa espaço para o surgimento de novos produtores locais de cerveja.

O ethos da produção artesanal, da pesquisa de ingredientes e a paixão pelo produto sempre fez com que a Junta Local se identificasse com a nova geração de cervejarias artesanais. Não é à toa que desde as primeiras feiras buscam dar espaço aos cervejeiros que estavam saindo das panelas, e também aprender com eles. A maioria é do Rio de Janeiro e fabrica os mais diversos estilos de cervejas. Hocus Pocus, Hija de Punta, Oceânica, 3Cariocas, 2cabeças, Lhama Loca, Three Monkeys e Trópica iniciaram no universo cervejeiro dentro de casa e hoje já produzem suas receitas dentro de cervejarias de médio porte para dar conta do volume de vendas. A revolução paneleira está começando e estamos juntos!

Fontes:
Dois dedos de colarinho
– Oliver, Garret (2012). A mesa do mestre-cervejeiro: Descobrindo os prazeres das cervejas e das comidas verdadeiras. São Paulo.