Em recente apresentação no encontro da Aliança Global Para o Futuro da Alimentação, o economista britânico Raj Patel, premiado autor do best-seller “O Valor de Nada – por que tudo custa mais caro do que pensamos” e do ótimo livro Stuffed and Starved: The Hidden Battle for the World Food System (Fartos e Famintos: A Batalha Oculta pelo Sistema Alimentar Mundial), foi claro: os preços pagos por alimentos não refletem o verdadeiro custo de produção.
Trocando em miúdos, a política de preços praticados na venda de alimentos ultraprocessados e produzidos em massa, por exemplo, certamente não considera uma série de externalidades como danos ambientais, sociais e de saúde envolvidos em sua produção. O preço final aparentemente baixo é pago pelo consumidor. As externalidades são absorvidas pela sociedade como um todo e assim não aparecem no caixa.
Patel sugere uma proposta inovadora de “contabilidade de custos verdadeiros” em que tais impactos seriam internalizados e o valor final do alimento seria uma reflexão mais exata destes custos totais de produção. Com estas despesas sendo absorvidas pela indústria, a feira de produtores locais do seu bairro poderia se tornar uma alternativa, ou melhor, uma verdadeira opção de acesso à comida de qualidade com preços bem mais em conta.
Isso seria apenas a pontinha do iceberg. A proposta de Patel é ambiciosa e ele acredita que uma série de mudanças no sistema alimentar poderia se desencadear a partir de então. Por que não pensar também nos custos de saúde associados ao agrobusiness? E o bem estar e a prosperidade de pequenos agricultores envolvidos na cadeia produtiva? E como imaginar essa onda de mudanças no contexto do comércio internacional, em meio à dança das importações e exportações de commodities?
O caminho para a mudança é longo, mas Patel acredita que boas ideias devem ser divulgadas e replicadas. Ele cita, inclusive, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), do governo federal, como um modelo de iniciativa que pode servir de ponte para a construção de um novo sistema alimentar.
Nós, da Junta Local, acreditamos que o alimento e tudo o que envolve a sua produção devem ser devolvidos ao lugar central entre as atividades humanas. Como defende Carlo Petrini, fundador do movimento Slow Food, o ponto crucial não é mais a quantidade de alimento produzido, mas a qualidade complexa, conceito que abrange questões de gosto, variedade e respeito pelo meio ambiente, ecossistemas e ritmos da natureza.
Dá gosto compartilhar ideias inteligentes como as de Raj Patel, que usa um argumento econômico para mostrar que a qualidade não é tão cara assim. Temos essa impressão porque a comida barata não está precificada corretamente. Devemos discutir e defender propostas assim.O objetivo de Patel nada mais é do que melhorar a nossa qualidade de vida e pensar alternativas ao atual modelo de desenvolvimento que é incompatível com as exigências do planeta.
Acreditamos na comida local e justa!