A Sacola Virtual foi elaborada com o propósito bem claro de criar um modelo alternativo com base em dois pilares: privilegiar o produtor do ponto vista logístico e financeiro, e também servir de ferramenta educativa para a mudança de comportamento do consumidor engajado. As duas coisas, a propósito, andam juntas e a Sacola não é apenas uma ideia, é uma ferramenta para colocar em prática essas ideias e ideais. Como tal, não nos assustamos com os descompassos e desacertos, pois acreditamos que toda prática nova esbarra em preconceitos e comportamentos sedimentados e de difícil mudança.

Levamos muito a sério as críticas feitas por membros da nossa comunidade que fazem pedidos e que, na grandíssima maioria das vezes, se manifestam de forma construtiva sobre o tempo de espera e os erros que o volume de pedidos e desconforto causado pelo espaço limitado causam.

As críticas nos levaram a fazer uma reflexão sobre os rumos da Sacola.

Uma tentação é buscar medidas e “soluções” rápidas que pensam apenas dessa ótica, minimizar o “desconforto”, “entregar o serviço prometido”. O passo seguinte seria a adoção de tecnologias milagrosas, a responsabilização unilateral por prejuízos e assim em diante. No entanto, essa modalidade de solução é a que, sob a fachada de um pretensa forma de agradar o consumidor a qualquer maneira, redundou no atual sistema alimentar em que os esforços para se implementar esse sistema levam à despersonalização e transferência de custos para o produtor, sufocando a variedade e cuidado na produção. Essas medidas, sobretudo, acreditam justamente que a solução é eliminar o elemento humano. Não é essa a razão de ser da Junta Local.

Cientes disso, propomos uma via oposta e radical: a intensificação da nossa proposta participativa com o objetivo de ofuscar ainda mais a divisão entre produtores e consumidores, de questionar ainda mais profundamente a noção que temos da experiência do consumidor. Não se deve confundir essa proposta com uma relutância em melhorar nosso sistema. Ao contrário, estamos sempre fazendo modificações incrementais para reduzir o tempo de espera e a quantidade de erros. No entanto, no sistema que preconizamos, essa melhoria só será levada a cabo se abrirmos ainda mais o sistema da Sacola Virtual para a participação. Incentivamos as críticas mas ao mesmo tempo convidamos nossa comunidade a se corresponsabilizar. Isso se faz através de uma mudança de postura de consumidor passivo, que, mediante pagamento, espera apenas a entrega do serviço, para um consumidor pró-ativo, que compreende a nossa proposta de trabalho e se envolve cada vez mais, seja fazendo a conferência dos pedidos, sugerindo melhorias e também botando a mão na massa. Já tivemos a ajuda de consumidores na Sacola e no último sábado. No auge do sufoco, Debora Oigman e Patrícia Smith, assíduas das nossas Sacolas que estavam na fila, se ofereceram para ajudar e passaram para o “lado de cá” da trincheira, em muito ajudando a desafogar o andamento da retirada. A partir de agora, convidamos sempre um de vocês a nos ajudarem na Sacola Virtual, uma forma de compreender “de dentro para fora” o nosso sistema. Se você se interessar em ajudar, basta enviar um e-mail para sacolavirtual@juntalocal.com.

Paralelamente, iremos, na Comuna, adotar um sistema de pré-separação de pedidos maiores, treinar voluntários para funções específicas e desafogar o espaço de espera para evitar o desconforto. Na Casa da Glória, graças ao maior espaço disponível, continuaremos nosso experimento de autosserviço na retirada.

Iremos também tornar mais explícita nossa missão de receber bem e informar quem faz pedidos.

A Sacola Virtual não é um supermercado. Quem faz pedido pela Sacola Virtual não é um mero consumidor. Os desafios não nos fraquejam, apenas tornam ainda mais forte nossa convicção de não querer replicar modelos pré-existentes e injustos. Queremos sim “derrubar” as paredes físicas e psicológicas que nos enclausuraram nas mecas ascéticas de consumo iluminados a neon, queremos um sistema mais humano, comunitário, participativo e justo. O sabor é “apenas” uma consequência disso no final.