Texto por Maria Eduarda Schatovsky

Começar definindo a Fabro como uma padaria ou uma mercearia é olhar de forma muito reducionista para o que está acontecendo ali. A portinha do pequeno espaço de  28m2, localizado num típico centro comercial barrense, dá acesso a uma cuidadosa seleção de bons ingredientes, produtos e bebidas locais, e, claro, pães. Os idealizadores do espaço também podem parecer estranhos no ninho. Músicos e acostumados a viverem fora do eixo Avenida das Américas, Ana, Gabriel, Didio e Brigante por caminhos tortos e inesperados foram levados a plantar a sementinha da Fabro, em plena pandemia, na Barra da Tijuca. O bairro de condomínios fechados, hipermercados, shopping centers gigantescos e largas avenidas ganha um oásis no meio das franquias e lugares genéricos. Um oásis de valorização de parceiros e produtores e também dos laços que se criam com a vizinhança.

O quarteto de musicistas e amigos se reúne há mais de 15 anos, seja num samba ou em torno de uma mesa de boa comida. Assim como quem curte um bom choro pega no cavaco, quem é bom de garfo uma hora resolve botar a mão na massa. E foi meio que assim que essa turma boa de cavaco e de garfo resolveu abrir uma padaria capaz de desfazer tudo que entendemos sobre o que é uma padaria. Sentados no grande pátio em frente à Fabro, Ana, cavaquinista que virou padeira mas ainda é cavaquinista, conta que começou a fazer pão em 2015. Entrou de curiosa, como muitos de nós, na fermentação natural, e o pão de panela chegava no máximo nas mesas dos amigos próximos. As cantadas dos três moços elegantes para transformar os pães da Ana no foco do empreendimento funcionou. Do dia para a noite, ela se viu em um relacionamento sério com a masseira, um forno profissional e uma produção “em escala”. Com o sorriso no rosto, encarou como se a prática fosse de anos. O aprendizado é diário no pequeno espaço de produção.

O lado empório tem muito do dedo de Gabriel da Muda, sambista que virou empreendedor gastronômico mas ainda é sambista. A experiência nos balcões de boteco e salões finos da cidade certamente apuraram seu senso curatorial e tino para a descoberta, mas também mostraram que o cuidado tem que se estender ao compromisso e parceria com produtores. O resultado não é apenas um empório com uma curadoria especial de tudo que uma despensa e geladeira pode precisar, direto de produtores pequenos e locais. A gente te fala que a casa já virou referência de vinhos naturais e cervejas artesanais na região. “Ainda estamos encorpando e diversificando os rótulos, fazendo um trabalho de formiguinha em cada uma das partes da Fabro, mas o desejo aumenta cada vez que alguém entra procurando as bebidas”, conta Gabriel.

O cardápio na parede já nos mostra que a Fabro joga nas onze, e por sinal, craque em todas elas. Da baguete com coado à taça de um natureba brazuca acompanhado pela tábua de frios, a casa se prova uma vitória para a região.

A boa notícia é que a padaria, aberta no fim de março de 2021, está em expansão para o outro lado do pátio, já que o tamanho da atual limita o serviço das bebidas, a variedade de produtos disponíveis no empório e as experiências com outros pães.

Saímos dali com a impressão de uma comunidade se fortalecendo e certos de que os locais da Barra já sabem onde podem estacionar o carro para encontrar comida boa. Vida longa à Fabro! Afinal, quem foi que disse que padaria não pode vender drinque e ter serviço de vinho e cerveja? ou Afinal, quem não gosta de um bom pão (e de drinques, vinhos, cervejas, e muito mais) bom sujeito não é.

Fabro
Av. das Américas, 7907 – Loja D, 122 – Barra da Tijuca

terça e quarta feira | 11h às 19h
quinta e sexta feira | 11h às 22h
sábado | 10h às 20h

Crédito das fotos: Acervo Fabro e Junta Local