A Junta Local de Primavera no Méier é uma oportunidade de diluir a fronteira Zona Norte – Zona Sul. Muitos que se dizem cariocas não conhecem esse bairro tradicional e verdadeiramente “da gema”. Além disso, a feira terá significado especial para quatro produtores da Junta que possuem fortes laços afetivos com o local. Convidamos nossos produtores meierenses para nos apresentar à comunidade e falar sobre o significado de poder participar da nossa feira no seu bairro do coração.

Emerson Gama, Quetzal Chocolateria

Emerson Gama da Quetzal Chocolateria Foto: Samuel Antonini

Emerson Gama da Quetzal Chocolateria Foto: Samuel Antonini

Andar pelo Méier é se impressionar com o burburinho, o movimento acelerado nos convida à reflexão. Os cariocas do Méier são verdadeiramente “da gema” e em cima disso ainda nutrem um orgulho singular pelo seu bairro, que é uma encruzilhada onde se encontram todos os destinos, onde a alma carioca se exibe ao vivo e a cores.

O bairro apresenta duas aparências urbanas distintas que os moradores chamam de “lado de lá” e “lado de cá”, divididas pela escadaria da estação de trem do Méier. Sim, o Méier é cortado pela Estrada de Ferro Central do Brasil, e sua história se confunde com a dos trens. Tanto que o aniversário da sua estação ferroviária é utilizado como data de fundação do bairro: 13 de maio de 1889.

Do lado de cá, o comércio local é farto e variado, e somos fregueses de locais, como a padaria Estação do Pão, a churrascaria Boi Bom, Saara do Méier e a Galeria Oxford. E ainda tem a feira da rua Galdino Pimentel às terças, que é o point.

Do lado de lá, temos o verde do jardim do Méier, com seu coreto tombado pelo patrimônio histórico, o vermelho vivo dos bombeiros, o fórum, a delegacia e a mais bela construção do bairro: a Igreja do Imaculado Coração de Maria que é, na verdade, uma basílica. O fato de não ter as paredes pintadas, deixando aparente o jogo dos tijolos com os vitrais e as serrilhadas nas torres, me reporta diretamente aos romances de cavalaria de Suassuna. Mesmo porque, no fundo, o estilo da basílica está mais para mourisco do que medieval. Diz-se que é o único templo católico mourisco no Rio, quiçá no Brasil. Vale a pena visitar.

Pra finalizar essa rasgação de seda, o Méier — muitos já notaram — é perto de tudo. As áreas próximas da rua Dias da Cruz e da estação ferroviária são mais agitadas, com comércio. As outras áreas são mais calmas: ruazinhas com casas e vilas, que já estão perdendo espaço para os espigões. Nessas ruazinhas ainda relativamente tranquilas, num dia como o de hoje, no intenso calor do Rio, paramos sob a sombra generosa de um flamboyant. O vermelho das flores se harmoniza, lá no alto, com galhos cujas formas parecem os braços acolhedores do Méier de hoje e de sempre.

Nunca vendemos nada no Méier, e a Junta será a oportunidade de mostrar para a vizinhança o que fazemos (até hoje os vizinhos não sabem o que faço da vida, mas devem ficar intrigados com o perfume de cacau torrado que paira sobre a vila).

Marina Carvalho, Dulche Nina

Dulche Nina. Foto: Samuel Antonini

Dulche Nina. Foto: Samuel Antonini

Eu não nasci no Méier, mas poderia ter nascido. Meus pais compraram um apartamento no Espigão da Dias da Cruz quando ainda namoravam! A vida nos levou por outros lugares desse país, mas moramos lá pela primeira vez de 1992 a 1993. Voltamos para uma segunda temporada em 2005, e lá ficamos por seis anos. Sempre gostamos de dizer que morávamos no olho do furacão: barulho zero em casa, fervo de comércio na rua! Era a combinação perfeita.

Como gostamos de dizer: o Méier tem tudo, menos praia e metrô. O comércio é farto, boas opções de restaurantes, bancos, médicos e escolas. Eu estudei no Educo CPS (que nem existe mais). Para mim, o que caracteriza o Méier é o 455 (carinhosamente 45Méier), o calor absurdo (faz 30°C no verão, meia-noite… tem noção do que é isso?), o Shopping do Méier (considerado o primeiro do Brasil), o leão divo na entrada do bairro e o Imperator.

Os meus lugares preferidos de comida são a Casa do Bacalhau do Méier (um bolinho de bacalhau lacrador), o cachorro-quente do Gaúcho (podrão com valor afetivo, salvou muita madrugada pós-night) e a Estação do Pão (panificadora metida a delicatessen, tinha um empadão de frango salvador!). Sei que muitos outros restaurantes foram inaugurados, mas eu não os conheço. Os citados definitivamente são da velha-guarda. A dica de feira livre é a da Galdino Pimentel, toda terça-feira.

Participar do Junta, Leão! é estar em casa, perto da família e de amigos. Sempre fui muito feliz no Méier e ver o Imperator renascer é demais! Lembro de ainda criança assistir aos shows nacionais e internacionais que eram organizados lá! O Imperator fazia parte do cenário musical do Rio de Janeiro. Quando a casa de shows faliu, o espaço ficou subutilizado… Mas com essa retomada tem tudo pra dar certo. Vida longa ao Méier, vida longa à Junta!

Fernanda Medeiros, Mundo dos Devas

Mundo dos Devas Foto: Samuel Antonini

Mundo dos Devas Foto: Samuel Antonini

Nasci, cresci e estudei. Fiquei até os doze anos morando no Cachambi. Cresci numa vila, na minha opinião a melhor infância que poderia ter tido.

O que marcou minha infância e virou referência foi o acolhimento que os moradores têm. É conhecer o vizinho, ajudar quando precisa, a educação e a gentileza. Uma união que não vi em outro bairro como no Méier.

Passei somente a infância morando lá, mas lembro que sempre ia na padaria da Rocha Pita buscar meu lanche da escola: sonho com doce de leite e toddynho! Tinha também a Casa da Banha, o jornaleiro onde ia comprar figurinha e gibis, e o senhorzinho que vendia canudinho com doce de leite na esquina da São Gabriel.

Ia sempre nas feiras de rua com minha mãe comprar frutas e verduras. Conhecia todo mundo.
Participar de uma Junta Local no Méier significa muito para mim. É como se estivesse voltando no tempo, um sentimento de nostalgia muito bom!

Alexandre Malheiros, Dimanana

Alexandre Malheiros do Dimanana Foto: Samuel Antonini

Alexandre Malheiros do Dimanana Foto: Samuel Antonini

Tenho uma relação de nostalgia pelo Méier. A Dias da Cruz com seu trânsito de enlouquecer qualquer um… a mesma Dias da Cruz por onde passava, já faz alguns anos, quando voltava do colégio dando gargalhadas sem preocupação com os amigos, a mesma Dias da Cruz onde tive loja.

Quando comecei o projeto do Dimanana, foi aqui que trouxe parte das primeiras provas do doce para estes mesmos amigos, sem saber o quanto iria bombar.

É uma satisfação muito grande poder vir ao Méier com a Junta local e recebê-los.