Por Maria Schatovsky
Barulhos de conversas, “tim tim” de taças e muito “glub glub” de vinho natural são as primeiras lembranças quando voltamos à memória da 10a edição da Feira Naturebas. Para os que ainda não ouviram falar, a feira nasceu em 2013 com o objetivo de aproximar o consumidor final do produtor, sem intermediários, dentro da Enoteca Saint VinSaint – uma das pioneiras no ramo de vinhos naturais no país, desde 2008.

A feira não tem fins lucrativos. Os produtores não pagam pela participação e a feira não fica com nenhuma porcentagem das vendas, revertendo toda a venda dos ingressos para bancar a própria estrutura. Na nossa entrevista com a Lis Cereja você consegue conferir um pouco mais sobre esse formato.

Nossa equipe de Comunidade, exemplo de curiosidade, sede de novidade e, é claro fome de comida boa, local e justa, foi conferir os mais de 100 produtores de vinhos naturais e outras bebidas, cervejas selvagens, chocolates, queijos, azeites, charcutaria e fermentados criados soltos gringos e brazucas. Ao chegarmos no evento, realizado na Ocupação 9 de Julho, no centro de São Paulo, fomos recebidos por um amplo pavilhão de produtores que já fizeram nossos olhos brilharem, mas ao andar um pouco mais e descer as escadas, um pavilhão com o dobro de tamanho se abriu na nossa frente, com uma quantidade ainda maior de produtores incríveis, e foi aí que percebemos que não daríamos conta de passar por cada mesa, conversar e conhecer cada produtor do jeito que gostaríamos nas poucas horas que teríamos. Assim, naturalmente, fomos sendo levados aos encontros e desencontros que moldaram essa viagem gastronômica. 

Falando em encontros, conseguimos bater um papo e colocar as novidades em dia com o Peèle da Lano-alto, nos deliciar com seus queijos e conhecer os outros integrantes do Coletivo Intergaláctico, bebemos também muitos fermentados com o Fernando e Leonardo da Companhia do Fermentados no nosso primeiro encontro ao vivo depois da disponibilização dos seus produtos via Sacola da Junta. Conferimos as novidades da Vinha Unna e do Projeto Seiva, ajuntados e super representantes do movimento do vinho natural nas nossas feiras. Reencontramos os chocolates da Luisa Abram, que acompanhamos todo o crescimento e trabalho com cacau varietal da Amazônia, e que daqui a pouco vem marcar presença atrás de nossas barracas. 

A feira promoveu diversos encontros com novos produtores, provamos um Isabel, que apelidamos de morangudo por aqui, feito pelo Gustavo da Bella Quinta, que também nos contou sobre seu vinho de palha – que foi a estrela da nossa Caixa de Descoberta Tábua e Taça no mês de Julho. Fizemos tatuagens e bebemos com a Vita Eterna, conhecemos os Traminers do Outro Vinho, nos deliciamos com os queijos de cabra feitos pela Márcia e o Luis do Capril Rancho Alegre, descobrimos os queijos de mínima intervenção e terroir da Serra da Mantiqueira produzidos pelo Vinícius e João da Fazenda Santo Antônio, que também viraram destaque na nossa Caixa de Descobertas do mês e já estão disponíveis na Sacola. Provamos as azeitonas produzidas na Serra da Mantiqueira pela Olivas Vikaz, e até refletimos sobre os conceitos de local após provar e conhecer mais da Bodega Murga, que produz vinhos de uvas crioulas cultivadas no meio do deserto peruano. 

O encontro não foi só com produtores, mas também com a comunidade carioca que trabalha, assim como a gente, valorizando e aproximando consumidores de pequenos produtores, Rafa da Slow Bakery, Ellen e Roberta da Planta Gastronomia e Gabriel da Muda da Fabro Padaria foram alguns que passaram pela gente brindando taças. 

No fim da feira, o sentimento foi de que as horas passaram voando, e que apesar das muitas conversas, ainda tínhamos ânimo para muito mais. Foi também de brilho nos olhos, de ver o movimento do vinho brasileiro desenvolver sua própria identidade, com as mais diferentes influências. Apesar disso, hoje, grande parte desses vinhateiros artesanais e naturais ainda são ilegais – não por opção, mas por termos uma legislação que ainda não oferece espaço para eles. A feira Naturebas definitivamente não é só um conjunto de barracas, produtores e consumidores, é também um ato político, um movimento necessário nos tempos que vivemos (leia um pouco mais sobre este contexto no texto “Bê a bá dos vinhos naturais diretamente da nossa revista), e por isso deixamos aqui nosso agradecimento e admiração pela Lis Cereja e toda equipe que possibilita que tudo isso aconteça. E enquanto a feira do ano que vem não chega, você pode se satisfazer com muita comida e bebida boa, local e justa pela Sacola e pela feira da Junta.

Crédito das fotos – Katiusca Salles