Por Thiago Nasser
A nossa ida à Naturebas (veja o relato na íntegra aqui) proporcionou grandes encontros não só com produtores, mas também com a própria Lis Cereja, uma das organizadoras do evento e grande agitadora e divulgadora do movimento não apenas dos vinhos naturais, mas de tudo aquilo, como ela diz, criado solto por aí. Se é um prazer ouvir Lis em seu ótimo podcast
Criado Solto, ao vivo é muito melhor. Como sempre fazemos por aqui, aproveitamos este encontro para botar o papo em dia, compartilhar as dores e delícias de quem busca promover a conexão direta com quem produz aquilo que gostamos de beber e comer e claro, pedir uma entrevista para a nossa Revista. Compartilhamos com você leitor o bate-pronto feito pós-feira pelo Whatsapp: uma resenha da feira de 2022 e o que está por vir.

JL: Depois de dois anos em que o formato da Naturebas sofreu mudanças por conta da pandemia, qual a sensação com a realização de uma edição “normal”?

LC: A gente até fez em 2020 a feira online, num formato híbrido. Foi uma loucura porque foram mais de 400 eventos online e também físicos e pequeninos. Então imagina dividir um público de duas mil pessoas em 30 dias de novembro. De qualquer maneira a sensação foi diferente da do ano passado, que foi realmente a primeira depois de um ano sem feira naquele formato com mais gente. Ano passado já foi muito emocionante porque querendo ou não é impossível a gente não pensar que a gente está vivo. Pode ser uma coisa meio óbvia mas isso traz muitas reflexões. É só estando aqui ainda que a gente continua a fazer coisas, né? Ano passado foi mais emocionante, uma coisa mais interna. E esse ano foi engraçado, foi uma válvula de escape de todo mundo, estava todo mundo numa energia muito pra cima, bebendo, mas bebendo gostoso, como um grande ato de celebração, foi muito importante para a gente voltar a ter uma sensação de vida, de confraternização, de vida normal. Embora a gente obviamente não esteja numa vida normal, esse ano deu pra gente pelo menos ter um respiro.

JL: Se a Naturebas é um termômetro do movimento dos vinhos naturais, qual é a leitura que se faz a partir da feira deste ano?

LC: Realmente serve como um grande termômetro até porque estamos muito atentos a todos os novos projetos tanto no Brasil como na América Latina. Nossa ideia inclusive é começar a expandir –  provavelmente a gente vai levar a Naturebas para fomentar outros mercados dentro do Brasil e também fora, como Uruguai, Argentina, Chile. E é impressionante. Claro que a gente não quer se transformar numa feira de 500 produtores se não a gente perde a mão e deixa de ser uma feira feita por nós. A equipe ainda sou eu, Leo, Mari e Amanda, que estão conosco na organização e a gente quer manter assim para ter esse controle e uma curadoria muito acirrada. Mas é inevitável o aumento, a demanda dos próprios produtores em participar, porque cada vez surgem novos produtores, seja de vinho, de vinho de outras frutas, de coisas relacionadas aí, dentro deste universo de comidas e bebidas, coisas artesanais, coisas criadas soltas, mas é exponencial o crescimento. Cada ano a gente tem o surgimento de no mínimo uma dezena de produtores diferentes. 

JL:  De que forma o formato da feira é concebido para promover um determinado tipo de conexão e conversa com produtores e importadores?

LC: : O grande lance da feira sempre foi promover essa grande conexão: de quem come e quem bebe, e de quem produz. Obviamente também que dos intermediários saudáveis importadores, que é a forma mais direta de você beber um produto gringo. Então a gente estimula isso de diversas maneiras fazendo com que o consumidor esteja diretamente ali com o produtor, trocando ideia. A gente depois disponibiliza o mapa da feira na íntegra para as pessoas continuarem nesse contato direto. Todos os importadores que a gente convida para feira são convidados na primeira hora da feira a fazer um tour por outros produtores que não conhecem, produtores que não tem importadores no Brasil. A feira tem esse caráter também de aproximar os produtores estrangeiros, tanto da América Latina como da Europa com os importadores aqui no Brasil, São Paulo é a grande porta de entrada de importação de vinhos. Mais ou menos 30% da galera que vem sem importador acaba encontrando importador aqui no Brasil, isso é muito interessante porque claro nossa ideia é sempre estimular o consumo e produção do vinho natural no Brasil. Só que você estimula isso também criando um mercado onde você tem referências. A gente não acredita em concorrência mas a gente acredita em referências, e sem referência ninguém cresce.

JL:  Quais são as perspectivas e planos para os próximos anos?

LC: As expectativas para o próximo ano são várias. A gente quer começar a fazer parcerias com as universidades relacionadas a alimentos, bebidas e gastronomia para entrar um pouco no mundo acadêmico, começar a utilizar estruturas de universidades para poder fazer simpósios, trazer chefes, trazer produtores para dar palestra, ter esse lado mais educativo da Naturebas que a gente sempre teve mas que a gente quer pegar pesado a partir desse ano. E a gente quer expandir para a América Latina, embora a feira já seja a referência na América Latina, inclusive para os produtores, agora a gente quer ir in loco para ajudar os mercados a crescerem.

Fotos: Banco de dados Feira Naturebas