Texto por Guilherme Mattoso

Com um nome direto que diz ao que veio, o livro Sal, Açúcar, Gordura: Como a indústria alimentícia nos fisgou, de 2013, lançou luzes sobre as artimanhas que as grandes empresas usam para ganhar mercado e, como consequência, despejar nas prateleiras alimentos cada vez mais nocivos para a nossa saúde. Este best-seller é assinado pelo jornalista norte-americano Michael Moss, repórter investigativo do New York Times e vencedor do prêmio Pulitzer pelo seu trabalho sobre o processamento da carne nos Estados Unidos. Foram três anos e meio de pesquisas somadas à experiência de Moss em temas como nutrição, saúde e política alimentar. E o resultado é brilhante.

Não é novidade que a indústria alimentar usa e abusa desses três ingredientes maravilhosos na fabricação dos seus produtos, mas Moss decidiu mergulhar fundo em sua pesquisa sobre como os gigantes da comida vêm consolidando seus impérios com base no sal, açúcar e gordura. Em pouco mais de quatrocentas páginas, o jornalista compartilha o resultado de uma minuciosa investigação que incluiu análises, documentos e entrevistas com executivos, marqueteiros e cientistas ligados ao setor. Trata-se de um cenário tenebroso – fica mais claro e muito óbvio como o setor ocupa uma posição central no que diz respeito à epidemia de obesidade (e problemas correlatos), não só nos EUA e demais países desenvolvidos, mas no mundo todo.

“A situação é simples: não faz parte da natureza dessas empresas se importar com os consumidores de maneira empática. Elas estão mais preocupadas com outras questões, como vencer os rivais. […] O supermercado, afinal, está cheio dos resultados das guerras travadas por eles para superar uns aos outros nas vendas”, explica o autor em um dos trechos do livro.

Se não fosse um documento tão rico em referências eu chegaria até a desconfiar que se trata de teoria da conspiração. Moss, porém, não demoniza CEOs, publicitários ou químicos ligados ao setor. Para ele, estes profissionais não agem de modo diferente do que outras empresas fazem, ou seja, querem apenas “faturar o máximo gastando o mínimo possível”. O problema é que, no caso da comida, o impacto dessa lógica é sentido diretamente na nossa saúde. Nem seria preciso mencionar, mas você sabia que muitos executivos do meio não comem os alimentos que eles mesmo produzem? Eis alguns exemplos citados:

“John Ruff, da Kraft, que abdicou de bebidas doces e lanches gordurosos; Luis Cantarell, da Nestlé, que come peixe no jantar; Bob Lin, da Frito-Lay, que evita batatas chips, bem como quase qualquer coisa muito processada; Howard Moskowitz, o engenheiro de refrigerantes que se recusa a beber refrigerantes. Geoffrey Bible não apenas parou de fumar os cigarros da sua empresa (a Philip Morris); quando supervisionava a Kraft, ele fazia o mesmo esforço para evitar qualquer coisa que aumentasse o colesterol”.

O autor defende que a simples noção de retomar o controle, com a finalidade de evitar a dependência de alimentos processados, pode ser o melhor recurso a curto prazo para vencermos a batalha contra a compulsão alimentar, mesmo com campanhas publicitárias bilionárias, embalagens sedutoras e sabores cuidadosamente criados para serem “impossíveis de comer um só”, como bem diz este clássico slogan da Elma Chips.

Por fim, o principal objetivo do livro é servir de grito de alerta para as questões e táticas que perpassam a indústria alimentar e para o fato de que é possível superá-las. Ainda temos opções e podemos fazer escolhas saudáveis, mesmo nas grandes redes de supermercados. Felizmente, “Sal, Açúcar, Gordura” é uma poderosa ferramenta de informação que pode ajudar e muito a nos defendermos quando adentramos naqueles imensos salões repletos de gôndolas, cores e aromas sedutores.