Por Thiago Nasser

Nas últimas semanas aqui na Junta Local temos passado horas sonhando com locais hermeticamente fechados, protegidos do sol com temperaturas baixíssimas e quiçá congelantes. O proverbial maçarico de verão está tão ligado que seria natural supor que estamos falando de pegar um voo para a Antártida e iniciar uma feira de picolés e sorvetes locais voltado para o público de pinguins. Embora esta possibilidade não esteja totalmente descartada, na verdade o objeto dos nossos desejos atende pelo singelo nome de câmara fria. E ainda que a hipótese da nossa equipe se refugiar dentro dela com uma Fim de Feira gelada in loco seja sempre cogitada, os principais beneficiários desta maravilha tecnológica serão os muitos produtos que dependem de uma cadeia fria. Essa é a garantia de que determinados produtos vão permanecer em condições ideais de temperatura e acondicionamento em todas as etapas da produção até o consumo, preservando seu frescor e durabilidade. Se os produtos locais ficam bem congeladinhos e fresquinhos, todo mundo fica mais feliz, você que come, você que faz, e todos nós que queremos um sistema alimentar mais justo. Câmara fria não é exatamente candidata à coqueluche do verão 2022 (se bem que com o aquecimento global não duvido em breve aparecer na capa da próxima Casa Vogue) mas para quem está diariamente na lida fazendo a ponte entre o pequeno produtor e a sua mesa, é uma musa revolucionária que faz a diferença num jogo em que normalmente quem controla os meios de logística e distribuição controla também o que vai para sua mesa. Isto é marxismo refrigeracionista na veia para vocês! Portanto, toda vez que ver um pequeno produtor ou negócio comemorando sua primeira câmara fria, faça um brinde também!

Na Junta Local estamos há sete anos tentando driblar a falta de, entre muitas outras coisas, uma câmara fria para pinguim nenhum botar defeito. Pão de queijo, frutas vermelhas, trutas, sorvetes. Tenras folhas e verduras. Recebemos os produtos de acordo com os pedidos e entregamos ou aguardamos os clientes num bat horário em dias específicos da semana justamente porque a manutenção das suas características requer equipamentos ou uma alta tolerância ao desperdício. Se você já se perguntou o motivo dos nossos “ciclos” de entregas, eis uma das respostas. Contornamos a questão não apenas com esse sistema diferentão mas dando outros jeitinhos. Na nossa cadeia fria colaborativa versão beta-zeta-1.0 já teve um pouco de tudo: roubar espaço da geladeira da Comuna (foi mal galera que tomou cerveja quente por lá!), isopores, coolers emprestados de produtores, gelo seco, tiros curto de entrega. É bom que sobre gelo porque tudo isso dá uma baita dor de cabeça.

Não foi à toa que, quando concebemos nossa campanha de financiamento coletivo ano passado, não titubeamos em eleger essa como a nossa primeira meta. Um dia teríamos nossa própria câmara fria! Quis a generosidade de 377 apoiadores que nos ajudaram a realizar esta meta, já que não custa pouco a tão sonhada.


Com o dinheiro na conta começou um novo périplo. Projetos (um salve para Luiz Winter, gato cervejeiro da W-Kattz e arquiteto de mão cheia), orçamentos com fornecedores, planejamento de obra, mutirão no nosso galpão para liberar um belo espaço. Aos poucos tudo foi se encaixando. Literalmente. Numa tarde de dezembro chegaram as placas da câmara fria, empilhadinhas numa caçamba. Alguns dias depois uma equipe foi encaixando as grossas placas de isopor dentro de outras placas (desculpem a falta de vocabulário técnico pertinente à engenharia de câmaras frias, mas sim, são muitas placas). As placas vão se juntando para formar a caixinha. Na verdade são duas caixinhas, uma para refrigeração e outra para congelamento. Dá orgulho ver que conseguimos construir dois isopores tão grandes. Tanto orgulho que não esperamos ela ficar pronta para mostrar um pouco dos bastidores desta construção. Esta semana começamos a furar o chão para a instalação dos drenos e preparar os caminhos da instalação elétrica. Esperamos que logo logo possamos inaugurar oficialmente nossos isopores e com isso abrir novos caminhos na nossa missão de fazer comida boa, local e justa (fresquinha e congelada) chegar em você.

Obrigado Luiz, Chiquinho, Marina e todos de sua equipe que estão carinhosamente nos ajudando a fazer da Junta um verdadeiro e equipado mercado local.